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Paixão Côrtes sobre o Acampamento Farroupilha

Dia do Gaúcho18/09/2015 | 18h31

Paixão Côrtes sobre o Acampamento: “Você vai lá e vê inúmeras fantasias”

Folclorista, que está com 88 anos, afirma que o tradicionalismo não é estático, mas que é preciso saber até onde criar.

Paixão Côrtes sobre o Acampamento: "Você vai lá e vê inúmeras fantasias" Dani Barcellos/Especial

Foto: Dani Barcellos / Especial

Nascido em Santana do Livramento, o folclorista Paixão Côrtes, 88 anos, que serviu de modelo para a estátua do Laçador, fala, neste 20 de Setembro, sobre o Acampamento Farroupilha e as tradições gaúchas passadas ê — transformadas — de geração para geração. Pai de quatro filhos (um já falecido), avô de cinco netos e casado com Marina, o estudioso conta como vê a data e a evolução dos costumes adotados pela gauchada.

Aqui Entre Nós — Como é o Dia do Gaúcho para o senhor?
Paixão Côrtes
 — Eu sou gaúcho 365 dias por ano, não sou gaúcho só no 20 de Setembro. Nesta data, presto homenagem aos meus ancestrais e procuro fazer isso com respeito, pesquisando as tradições.

Aqui — Tem o costume de frequentar o Acampamento Farroupilha?
Paixão —
Sim, claro, já fui lá! Não existe no mundo uma manifestação de culto às tradições e à sua terra como aqui. O povo tomou conta e deu as suas características, ou por conhecimento ou por ignorância. Por conhecimento, quando representa com fidelidade. Por ignorância, quando aparece fantasiado. Você vai lá (no Acampamento) e vê inúmeras fantasias.

Aqui — O que considera fantasia?
Paixão —
Eu não estou acusando as pessoas, mas existe uma responsabilidade em ser tradicionalista. Não basta colocar um vestido de prenda e sair com uma cuia na mão. A mulher, por exemplo, tem que tomar seu mate com cuia de porcelana! Mas é o jeito que as pessoas se manifestam… Eu não sou tradicionalista, procuro a ciência do folclore. E o tradicionalismo não é estático, é dinâmico, mas tem que saber até onde criar.

ANTÔNIO INÁCIO DE OLIVEIRA FARRAPO LAGEANO

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

ANTÔNIO INÁCIO DE OLIVEIRA FARRAPO LAGEANO

Felipe Reis
Historiador, Professor Especialista em História do Brasil: Economia e Sociedade

A Revolução Farroupilha, peja na aplicação da doutrina liberal e seu antagonismo com a democracia e a autocracia, colocando os farrapos como continuadores dos princípios da Assembléia Constituinte de 1823.
A insurreição aguerrida marcial da confraria oligárquica do Rio Grande do Sul contra o governo imperial, que ficou popular em nossos vade-mecum como Revolução Farroupilha, foi uma reação da casta dirigente da elite de grandes latifundiários gaúchos, com o objetivo de defender seus privilégios, ameaçados pelo governo central do Rio de Janeiro.
A revolução, deflagrada em 1835 e encerrada em 1845, dez anos depois, com o acordo de Bento Gonçalves, com Rio Branco, que agregava as patentes dos oficiais da milícia, a oficiais do exército imperial; o que demonstrou claramente que os fazendeiros do Rio Grande do Sul já eram, no início do século XIX, uma corporação suficientemente coesa e pujante para enfrentar o governo imperial.
Com o passar do tempo, a lembrança da chamada Revolução Farroupilha foi sendo aproveitada, pelas sucessivas coligações políticas e nos mais variados momentos, como um contexto ideológico na defesa de seus interesses. De modo que a realidade e/ou fato histórico ficou muitas vezes encoberto.
Na proposição de uma discussão historiográfica, trazemos à tona um esquecido da história dos farrapos, Antônio Inácio de Oliveira, um lageano líder do levante de insurrectos farroupilhas, no Planalto da Serra Catarinense, sob o comando de Teixeira Nunes. Tão pouco comentado pela história, acabamos por ter contato com este personagem real da história do Termo de Lages e suas adjacências/limítrofes, quando nos deparamos com documentações que expunham a presença deste revolucionário na Freguesia de Nossa Senhora do Patrocínio de Baguáes – Campo Belo do Sul.
Fato inusitado no momento em que pesquisávamos documentos inéditos sobre o período imperial brasileiro e escravidão em finais do século XIX na região, quando encontramos documentos que fazem menção a este cidadão lageano sob o comando de Teixeira Nunes. Onde este segundo documento estaria responsável pela escolta e passagem de algumas pessoas vindas da Laguna e, fariam à travessia do Rio Pelotas; a travessia deveria ser feita pelo caminho de mais curta duração de caminhada, facilitando este comando, pelo bom contato que o maçom Antônio Inácio de Oliveira, possuía com fazendeiros da Freguesia de Nossa Senhora do Patrocínio de Baguáes.
Coincidentemente ou/não, a Freguesia de Nossa Senhora do Patrocínio de Baguáes, hoje município de Campo Belo do Sul, foi chamada de Antônio Inácio em um período posterior, em homenagem a este lageano. Em atividade de pesquisa campal no cemitério local da Freguesia Bagualense, cemitério que data de fins do século XVIII, em levantamento arquitetônico iconográfico cemiterial, como intitulamos esta melindrosa atividade, descobrindo entre outras coisas um túmulo confeccionado pelo artista plástico mundialmente conhecido, mas esquecido no Brasil, Agostinho Mallinverno e assinado pelo próprio, também um túmulo antigo onde apenas existe a iconografia de um ramo de acácia em seu epitáfio, um possível indício de ser este um maçom, ali sepultado.
O questionamento é porque um túmulo sem qualquer outra identificação pessoal? E porque Antônio Inácio de Oliveira foi esquecido com o desenrolar da história que permeia os farrapos? Mistérios que talvez nunca sejam desvelados, mas que fazem parte do imaginário e das fontes primárias desta história ainda por se fazer de Lages e circunvizinhanças.

NA INVERNADA DOS FARRAPOS

Na *Invernada dos Farrapos, há um cerro com vista longa,
Onde a batida da milonga é plangente nos corações!
Estandartes, pavilhões, em trapos, porém fulgentes,
E a alma da nossa gente tremulando nos brasões!

Capão grande, guarnecido por canelas e pinheiros,
Dentro dele um potreiro e taipas feito trincheiras;
Muita caça, gado alçado e pra fome de liberdade,
A honra e a fidelidade pra com as cores da bandeira!

Garibaldi e Teixeira à frente dos lanceiros negros
Dando a vida pelo apego e por um ideal na guerra!
Centauros brotam da terra e um brado forte proclama
A República Lageana, nos altiplanos da serra!

Ginetes das serranias, fortes como *Bois de Botas,
Entre varzedos e grotas, do império não foram escravos!
República fez-se em Lages! Glória no Santa Vitória!
Enaltecendo a história e a altivez de um povo bravo!

Nestes rincões de Anita, velho chão de todos nós;
A fibra dos bisavós foi legada à descendência,
Viva no modo e na essência – austeridade de um povo –,
Mas que peleia de novo na defesa da querência!

Na invernada dos farrapos, algum fantasma guerreiro,
De um boleador e lanceiro, que não sabe que morreu,
Cuida a linha do horizonte, que vem do *Santa Vitória,
Com invisíveis esporas nas horas santas de Deus…

Quem apeia pelo capão e longe alcança a vista,
Passa a alma em revista, e vê gaúchos em trapos!
Sentimento irretratável, que persiste ao tempo novo,
Dorme a história do meu povo na invernada dos farrapos.
*Invernada dos Farrapos: Nomenclatura dada a uma área de campos na localidade da Coxilha Rica, município de Lages SC, local de acampamento e combate das tropas republicanas, contra as tropas imperiais, durante a Revolução Farroupilha.
*República Lageana: simpática a causa republicana a região dos Campos de Lages, participa ativamente contra as forças imperiais, sendo proclamada no ano de 1839 a República Lageana.
* Bois de Botas: Elogio dado por Davi Canabarro ao destacamento de lageanos pela demonstração de força ao desatolar pesados canhões de um banhado.
* Santa Vitória: Passo no Rio Pelotas entre SC e RS onde se travou combate com vitória dos republicanos.

Melodia de Érlon Péricles, Cristiano Quevedo e Elton Saldanha – 3º Lugar e melhor tema sobre a região serrana Sapecada da Canção Nativa Lages SC
Ramiro Amorim

REVOLUÇÃO FARROUPILHA EM LAGES

No dia 11 de março de 1839 era solenemente Proclamada a República em Lages. Logo esta agradável notícia chegou ao governo Rio-grandense. O Presidente da República enviou aos lageanos a seguinte Proclamação:

PROCLAMAÇÃO AOS HABITANTES DE LAGES
Lajeanos !
“A notícia da generosa cooperação que prestastes às armas Republicanas foi ouvida pelo povo rio-grandense com expressão do reconhecimento e do entusiasmo. A república vos pende por tais feitos, sinceras ações de graças. Irmão! Correi a nossos braços: não sereis certamente dos últimos a despregar as vexações e arbitrariedade; a dar aquele grito sempre pavoroso aos tiranos da popular liberdade! Já os bravos paulistas fazem tremular aos olhos dos seus opressores aquele pendão sagrado: cinco de suas principais vilas tem vingado nos escravos de um coroado déspota dezesseis anos de vexações e arbitrariedade; os briosos catarinenses escudados por nossas vitórias falanges não tardaram a imita-los; o Ceará e Sergipe encetaram a majestosa carreira da resistência as infame governo que os maltrata; o Maranhão se dispõe e se prepara para tão honrosa empresa; o Pará e a Bahia juram sobre cabeças ensangüentadas de seus numerosos filhos sacrificados à vingança do partido lusitano. Renasceram de suas ruínas mil vezes mais formidáveis; o vacilante império brasileiro corroído dos vícios, próximo a uma estrondosa bancarrota, prestes a sucumbir ao peso ingente de uma enorme dívida pública, devorado pelas facções que o dilaceram, este edifício monstruoso de corrupção e de crimes, insensivelmente se desmorona, e parece cair por toda à parte. Ora pois, lajeanos, às Armas! Fazei tronar em meio de vossas montanhas o brado glorioso da vossa emancipação absoluta; despedaçai o injurioso grilhão do despotismo, e cheios de indignação lançai-o à cara. Que podeis recear contando-nos a nós e aos nossos poderosos aliados em número de vossos amigos? Vossa posição geográfica vosso caráter vossos hábitos e usos concorrem a irmanados liguemo-nos para sempre em anel firme sejamos um e o mesmo povo, que todos os homens fez livre não deixará, porque é justa de abençoar nossos esforços e de fazer prosperar nossos esforços as Nossas Armas.”
Dada residência Presidencial de Caçapava aos 21 de março de 1839.
– 4º da independência e da república – BENTO GONÇALVES DA SILVA.

“Depois de proclamada a república em Lages, começaram as forças revolucionárias que lá se achavam, a lançar suas vistas para o litoral catarinense. O lageano Serafim Muniz de Moura e cento e poucos homens de cavalaria da guarda nacional da mesma vila aproximaram-se de Laguna fazendo conter o progresso do inimigo”.
No combate da Guarda de Santa Vitória, município de Bom Jesus-RS, a 14 de dezembro de 1839, o herói republicano de Lages benemérito Tenente Coronel Antônio
Inácio de oliveira Filho, depois de triunfo quase completo, morria com um tiro, quando penetrava no entrincheiramento do inimigo.
Este combate realizou-se numa porteira seguida de taipas, que noutros tempos servira de registro das tropas. O destemido Comandante José Garibaldi entrou à testa com seus marinheiros, e os constantes lageanos pelo flanco esquerdo do inimigo, e as duas companhias do 4º Batalhão de comando do Major Inácio Peixoto carregaram porção pelo flanco direito. Quando chegado o momento do ataque, lançou-se o inimigo porteira adentro e carregou com tanto ímpeto sobre a cavalaria imperial que formava na retaguarda da infantaria, que súbito foi visto debandar-se em precipitada fuga. A ação deste modo decidida em favor das Armas Republicanas e o dia 14 de dezembro não serão esquecidos na história de nossas vitórias: foram fatores decisivos da sorte futura da província de Santa Catarina.
“Os catarinenses, estes homens que se entremeavam num ataque de cavalaria, não deixando nada a desejar”. Este pressuposto denota que este combate que caracterizou a bravura dos lageanos e catarinenses.
Retirado da cópia fiel das comunicações do chefe Farroupilha Coronel Joaquim Teixeira Nunes à Bento Gonçalves e a Antônio de Souza Neto.
Informações obtidas através do Gen Leandro da Silva Vieira, Guarda Nacional / Lages-SC / Mário Arruda década de 80.

Moacyr Flores: “O maior acontecimento da história do Brasil é a Revolução Farroupilha”

Moacyr Flores: “O maior acontecimento da história do Brasil é a Revolução Farroupilha”
“Todos falavam que o movimento dos farrapos era democrático. Não. Era liberal. Só Joaquim Francisco de Assis Brasil, diz isso, mas não explica. Dante (Laytano) sempre disse: o movimento farroupilha é brasileiro. De fato, é brasileiro.”

14/12/2012 – 16h20min
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Moacyr Flores: “O maior acontecimento da história do Brasil é a Revolução Farroupilha” Diego Vara/Agencia RBS
Foto: Diego Vara / Agencia RBS
Cultura – Onde o senhor nasceu e cresceu? Quem eram seus pais? Onde estudou?

Moacyr Flores – Meu nome completo é Moacyr Flores e nasci em 14 de janeiro de 1935, ano do centenário da Revolução Farroupilha, na Rua Benjamin Constant, em Porto Alegre, numa casa que não existe mais, em frente ao Cine Orfeu, depois Astor. Me criei na rua de trás, a Nova York. Fiz o primário no Grupo Escolar Daltro Filho, onde os professores me diziam que deveria ser engenheiro porque tinha facilidade para matemática.

ZH – E tinha mesmo?

Flores – Sou cartesiano, né? (Sorri.) Meu filho e meu neto também herdaram essa facilidade. Quando eu ainda não estava no colégio, minha mãe comprava livros e lia para mim.Já tinha uma pequena biblioteca antes de ser alfabetizado. Outra coisa que ela fazia era ler para mim o Correio do Povo, aquele jornal grandão que a gente lia “crucificado”. Isso me deu o gosto pela leitura. No segundo ano primário, tínhamos de tirar um livro na biblioteca e, aos sábados, escrever no quadro as palavras que
não havíamos entendido e que a professora então explicava. O primeiro livro que tirei foi
Os 12 Trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato. Como a minha mãe sempre me trazia esses livros, já no primário eu li romances para adultos. Praticamente não passei por livros infantis. Os únicos foram os de Lobato, que guardei para meus filhos.Ao ler O Poço do Visconde, vi que era uma tremenda crítica à política brasileira do petróleo, não era infantil coisíssima nenhuma. (Risos.) Depois, na universidade, vou trabalhar com esses livros dizendo: “Ó, não é livro infantil, é livro de crítica ao Brasil”.No 5º ano,a professora ficou apavorada porque eu tinha lido Salambô,de Gustave Flaubert,e disse que não podia ler isso.

ZH – Como era o seu ambiente familiar?

Flores – Meu pai, Anastácio Flores, era escultor, trabalhava com gesso e cimento,era um verdadeiro artista. Minha mãe,Alice, só tinha completado o 4º ano primário, mas era uma voraz devoradora de livros. Meu pai era anarquista. O movimento operário no Rio Grande do Sul foi organizado pelos anarquistas, e ele era operário. Não acreditava nos socialistas (“Todos burgueses”) nem nos comunistas (“Nunca pegaram na foice e no martelo e querem ensinar os operários”). Os anarquistas tinham uma política muito diferente daqueles que hoje se dizem anarquistas e não o são. Meu primeiro trabalho foi servente de obra, não nasci professor.Aos 14 anos já estava trabalhando
para estudar à noite. Segundo meu pai, eu tinha de estudar para poder discutir
com o patrão. Se não tivesse estudo, o patrão iria me enganar. Talvez eu seja contestador porque fui criado dessa maneira. Os anarquistas se reuniam no quintal de nossa casa na Nova York para beber cachaça com bitter (eu ia à venda com uma canequinha para comprar a bebida) e para falar de política,de teatro.

ZH – De teatro?

Flores – Os anarquistas eram cultos. Um dia vi uma foto de Carlos Cavaco (1878 – 1961,
advogado e tribuno socialista) e pensei: “Mas esse era o Cavaco que ia à minha casa”. O pessoal gozava com ele por ser socialista.Os anarquistas tinham uma ideologia de não aceitar interferências.Tanto é que diziam que eu devia ir à missa. O resto era bobagem, mas eu tinha de ouvir o sermão porque havia moral e, se eu não tivesse moral,precisaria de um chefe.

ZH – Esses anarquistas não eram ateus.

Flores – Não, eles eram anticlericais. Mas, no cristianismo,o importante era a moral.

ZH – O senhor começou a trabalhar aos 14 anos porque precisava ajudar em casa?

Flores – Sim, éramos uma família pobre, e a idade em que todo garoto ia trabalhar era 14, 15 anos, caso contrário seria considerado vagabundo.Tinha de trabalhar e entregar todo o dinheiro. Se precisasse, tinha de pedir. E era obrigado a estudar também.

ZH – Como foi a sua passagem do ensino secundário à universidade? Por que escolheu a faculdade de história?

Flores – A escolha de história é interessante. Parei de estudar ao terminar o científico porque tinha de trabalhar, a mãe estava sozinha, eu era o mais velho e tinha de ajudar. Meu pai morreu em 1951. Comecei a namorar a Hilda (Hilda Hübner Flores, professora e historiadora, mulher de Flores), que fazia dois cursos superiores (Filosofia e Serviço Social), e eu só com o Científico. Me senti inferior. (Risos.) Quando começamos a namorar, em 1959, ela veio com Aristóteles e eu me contrapus com Sócrates. (Risos.) Eu trabalhava como desenhista na Divisão de Organização da Secretaria de Administração do Estado, e abriu um concurso para cartógrafo, que ganhava melhor do que desenhista. Para se inscrever, era preciso ter completado ou estar matriculado do curso de Cartografia ou cursar Geografia. Resolvi fazer Geografia e História na PUCRS, onde era um curso único (na UFRGS, eram separados). Me entusiasmei com história e não prestei o concurso. Resolvi me tornar professor, que na época dava direito a um salário muito bom.

ZH – O senhor ainda desenha?

Flores – É, algumas coisas assim. (Indica telas nas paredes da sala.) Parei porque a pesquisa histórica requer tempo, assim como o desenho. Eu trabalhava 12, 14 horas por dia fazendo desenho técnico, educativo. Fiz umas três exposições de pintura e outras três de cerâmica. Minha filha tem formação em cerâmica e faz mestrado em Artes Visuais na UFRGS. Passei a ela a parte técnica, e ela me passou a
cerâmica.Fizemos uma troca.

ZH – O senhor se casou em que ano?

Flores – Em 1962. Eu estava no terceiro ano da PUCRS. Abriu concurso para professor
estadual com vaga no Interior. Nós (Flores e Hilda) nos candidatamos. Fui com duas nomeações para duas disciplinas, e ela com uma de Serviço Social e outra de professora. Tínhamos quatro vencimentos. Para recémcasados, era uma maravilha. Naquele tempo, era preciso começar no Interior e só depois de dois anos era possível ser transferido para Porto Alegre. Fomos nomeados para São Borja, ficamos lá por três anos e meio. Quando fomos transferidos para a Capital, prestei concurso no meu colégio, o Julio de Castilhos, onde cheguei a vice-diretor. Em 1968, fui convidado
pelo Dante de Laytano (professor, criador da disciplina de História do RS na UFRGS
e na PUCRS) para assumir as cadeiras dele como professor auxiliar. Em seguida, saí do Julinho para ser historiógrafo do Arquivo Histórico do Estado.A rotina me deixou num estresse muito grande, porque eu estava preparando a minha dissertação.Acabei fazendo concurso para professor na UFRGS, no final dos anos 1970,e saí do Arquivo Histórico.

ZH – Como era sua relação com Dante de Laytano?

Flores – Ele era catedrático de história na PUCRS. Só dava a primeira e a última aula, o restante era com o auxiliar. Eu tinha sido dele na PUCRS, onde me formei em 1964. Na época em que ele me convidou, eu dava aula em três colégios (também era professor do município e do Colégio das Dores, particular). Só via a família ao meio-dia, porque chegava em casa à meia-noite e os filhos já estavam dormindo. O que eu aprendi sobre história, aprendi com Dante. Não nas aulas, mas na casa dele. Ele me convidava para ir à casa dele na Avenida Carlos Gomes “marcar o ponto”. Íamos eu e a Hilda, com as crianças. Quando não ia, ele me telefonava: “Olha, vou te cortar o ponto”. Ele me ensinou a manejar fontes, documentos, bibliografia, quem era Fulano ou Sicrano – porque ele tinha conhecido todos os historiadores anteriores. Dizia: “O Aurélio Porto tem tal ponto de vista, o Varela tem tal”. Quando não prestava, dizia: “Esse é um chato, pode deixar de lado”. Ele nos convidou para ser testemunhas do segundo casamento dele.

ZH – Como o senhor define o papel dele na historiografia rio-grandense?

Flores – Ele era formado em direito, era do tempo em que não havia curso de história. Passou de uma fase positivista, a dos primeiros escritos, à história cultural, muito influenciada pelo Franz Boas (antropólogo americano). Nesse momento, começa a pesquisar folclore, música, literatura. Faltava a ele um método, porque ele não tinha formação em história. A escrita dele não segue uma sequência. É confiável porque se baseia em documentos. Ele mesmo me dizia: “Olha,Moacyr,tu tens de
pesquisar documentos”. Ele trabalhava com documentos, só que muitas vezes não citava a fonte. Só o vi uma vez brabo. Era um bonachão, um gentleman,tratava todo mundo com urbanidade. Não atacava os outros, mesmo quando atacado.O melhor livro dele é História da República Rio-grandense (1936).Em Modelo Político dos Farrapos, cito esse livro ao lado de outros três que considero os melhores: Notas
ao Processo dos Farrapos (1933 a 1935), de Aurélio Porto, História da Grande Revolução (1933), de Alfredo Varela, e A Revolução Farroupilha, de Tasso Fragoso. Todos os literatos – romancistas,poetas ou historiadores – abordam a Revolução Farroupilha porque ela é um selo de identidade do Rio Grande do Sul.

ZH – Foi essa a razão de o senhor tê-la escolhido como objeto de pesquisa em seu mestrado?

Flores – Inicialmente, pensei em estudar Carlota Joaquina. Fomos até Petrópolils (RJ) para ver o Arquivo do Museu Imperial. Me apavorei com a quantidade de documentos. Ela queria ser soberana do Prata e manteve correspondência com ministros de Grã-Bretanha, Espanha,Argentina,Uruguai,Peru.Quando comecei a ler, fiquei estarrecido e cheguei à conclusão de que não teria dinheiro nem tempo para fazer essa pesquisa. Se ganhasse bolsa, teria de parar de lecionar, e então tinha de continuar lecionando e fazendo a dissertação. A PUCRS me deu uma vantagem: diminuiu a carga horária sem redução de salário. Fiquei com uma tarde para o Arquivo Histórico.

ZH – Só uma tarde?

Flores – E tinha as férias.Viajávamos para Pelotas e Rio Grande – esta última é uma das melhores que temos. Pesquisei no Arquivo Municipal de São Paulo e ao Rio, no Arquivo Nacional. Fiz o trabalho nas férias junto com a família. Enquanto Hilda ficava cuidando das crianças,eu ficava caneteando e pesquisando.

ZH – Por que o senhor decidiu pesquisar a política dos farroupilhas?

Flores – Eu estava lendo um jornal antigo do tempo dos farrapos e vi a palavra “política”. Pensei: opa, ninguém escreveu sobre política. Como professor, sempre fiz levantamento de bibliografia e me dei conta de que, entre as 400 publicações que tinha listado, não havia nada sobre política. Então decidi estudar as ideias políticas. Aliás, o título da
dissertação, de 1975, é Ideias Políticas na Revolução Farroupilha. Quando o livro foi publicado, em 1978, escolhi o título Modelo Político dos Farrapos. Era a época dos Anos de Chumbo, só se falava em modelo econômico, modelo político, modelo social.

ZH – Modelo Político dos Farrapos foi uma tentativa de estudar a história dos
Farrapos para além da economia?

Flores – Não, não pensei nisso. Pensei que tinha de fazer rapidamente uma dissertação e procurei um tema sobre o qual ninguém tinha escrito. Todos falavam que o movimento
dos farrapos era democrático. Não era democrático, era liberal. Só um, Joaquim Francisco de Assis Brasil, que escreveu um livro sobre a Revolução Farroupilha em 1883 (História da República Rio-grandense), diz isso, mas não explica. Comecei a estudar o liberalismo, a documentação. Dante sempre me disse: “O movimento farroupilha é brasileiro”. De fato, é brasileiro. Para mim, o maior acontecimento da história do Brasil é a Revolução Farroupilha, tentativa de implantar uma república
brasileira. Só que as outras províncias não o acompanharam, e o pessoal ficou sozinho. Esse movimento começa em 1823,quando Dom Pedro I fecha a Assembleia Constituinte. Eles se consideram herdeiros dos liberais de 1823, queriam um Legislativo forte que evitasse a ditadura do Executivo. Diziam que um Legislativo
fraco propicia o autoritarismo.

ZH – E queriam chegar a isso sem romper a unidade do país?

Flores – Pretendiam uma federação de províncias autônomas. Não era a separação. É claro que, quando viram que os outros não tinham acompanhado, só restava proclamar
a república para continuar a luta. Havia um grupo pequeno, chamado de farroupilha, que queria a separação desde o início. No projeto de Constituição de 1842, em Alegrete, aparece a ideia de que as províncias se federalizem ao Rio Grande. Para eles, a federação permitiria que os Estados tivessem leis próprias. Eles estudam num jornalzinho americano as Constituições dos Estados americanos.Não a Constituição
Federal,as Constituições dos Estados.

ZH – Estão interessados na relação com o poder central.

Flores – Era isso que queriam implantar. Seríamos uma federação autônoma. O Brasil
continua sendo federação no nome. Não é federação porque tudo se decide em Brasília, como antes se decidia no Rio. Para calçar uma rua em Porto Alegre,os vereadores precisavam pedir licença para o presidente da província, que pedia licença ao ministro do Interior no Rio. Concedida a licença, a Câmara Municipal obrigava os moradores da rua a pagar o calçamento. Em 1884, Capistrano de Abreu escreve que “o governo brasileiro castrou e recastrou o povo brasileiro”. Carlos von Koseritz viaja em 1883 ao Rio, visita o Congresso e diz: “É um circo de cavalinhos com lonas rotas onde os
políticos fazem malabarismos que ninguém mais aplaude, fazem palhaçadas de que ninguém mais ri”.O povo sempre foi desamparado, e aliás continua desamparado.

ZH – A proclamação da República foi um gesto impulsivo a partir da vitória na
Batalha do Seival?

Flores – Não é só isso. Havia uma cisão entre Antonio de Souza Neto e João Manoel de Lima e Silva, tio do futuro Duque de Caxias e irmão do regente Lima e Silva e do ministro da Guerra,Manoel de Lima e Silva.É por isso que eles fazem a sedição. Eles têm toda a proteção. Tanto é que o Rio não mandou soldados para contra-atacar. Quem contra-atacou os farroupilhas foram os rio-grandenses.Aí assumiu a Regência o padre Diogo Antônio Feijó, chefe do partido farroupilha em São Paulo.

ZH – Eram chamados de farroupilhas em São Paulo também?

Flores – O partido farroupilha já existe em 1828 no Rio e em São Paulo. Farroupilha designa os que querem a federação. O Brasil era um Estado unitário, e “farroupilha” quer dizer pedaço, retalho, no sentido de que são pedaços no sistema político brasileiro de Estado centralizado. São subversivos que querem a federação. Depois os nosso historiadores mudaram o negócio, sugerindo que “farroupilha” significava esfarrapado, ou seja, que o povo havia se levantado.O povo não se levantou.Foram os estancieiros que levaram seus parentes, seus compadres.Vai todo mundo para a guerra,
afilhado,tudo.É um sistema de compadrio: o compadre vai para a guerra, e os afilhados têm de ir junto. Essas ideias que estudei (em Modelo Político dos Farrapos) não eram do povo. O povo era analfabeto – 85% dos rio-grandenses não sabiam ler nem escrever.

ZH – Passados 35 anos da publicação de seu livro,como define Bento Gonçalves?

Flores – A definição que temos segue a de Thomas Carlyle (historiador britânico): ele
parte do princípio de que a história se faz por heróis e que esses heróis já nascem predestinados. Os republicanos precisavam de heróis para nossa República. Ela é instaurada por um golpe militar para impedir que, na sessão legislativa de 20 de novembro, Joaquim Nabuco apresentasse um projeto da princesa Isabel para compra de terras aos escravos libertos, e voto feminino. A princesa escreve: “Se os
republicanos e militares consentirem”. Não consentiram. Cinco dias antes, dão um golpe sem a participação do povo e proclamam a república. Tentaram fazer Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto (os dois primeiros presidentes da República) de heróis, não conseguiram. Pensaram: quem lutou contra o Império? Um tal de Tiradentes, e então Tiradentes foi transformado em herói porque lutou contra a Coroa portuguesa. E no Rio Grande? Bento, Davi Canabarro. Pronto, foram transformados em
heróis dos positivistas que assumiram o poder. Todo mito é criado de acordo com os interesses de cada geração. Como não tenho esses
interesses, vejo Bento Gonçalves lembrando que esses personagens históricos são humanos, com todas as falhas humanas. “Os farroupilhas pretendiam
uma federação de províncias autônomas. Não a separação. Quando viram que os outros não tinham acompanhado, só restava proclamar a república para continuar a luta.

REVOLUÇÃO FARROUPILHA E FAMÍLIA ARRUDA – TUDO A VER!

Durante a Revolução Farroupilha

Desde que a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas sacudiram a Europa e na América do Norte os Estados Unidos se “emanciparam” do Império Britânico o sistema de governo republicano virou moda. D. João VI veio refugiar-se no Brasil em 1808. Em 1817 Napoleão tentou fugir da Ilha de Santa Helena para o Pernambuco, porém a fuga fracassou. O italiano Giuseppe Garibaldi teve mais sorte, trouxe em sua bagagem os ideais republicanos e encontrou aqui uma província brasileira cheia de gringos, seus patrícios, e um cenário de guerra contra o Império Brasileiro, a República Rio Grandense proclamada em setembro 1836.

Após ser invadida pelos gaúchos sob o comando de Mariano de Mattos, Ministro de Guerra Farrapo, e incorporada ao Rio Grande do Sul, em março de 1839, por iniciativa de Inácio de Oliveira e com apoio de Serafim de Moura até janeiro de 1840 Lages era a “República Lageana”, a primeira em Santa Catarina. Em setembro de 1839 Garibaldi e Canabarro proclamaram a República Juliana em Laguna.

Datas e fatos históricos interligados e de suma importância para nossa Serra Catarinense. Se o resultado da Revolução Farroupilha – após quase 10 anos de luta – tivesse sido um sucesso qual seria hoje nossa realidade econômica? Estaríamos nós vivendo num país menor, a exemplo do Uruguai, num país mais politizado e – por quê não dizer – mais culto e próspero? Onde a República fracassou? Basta cavocar na História escrita e oral que as respostas aparecem.
172 anos depois estamos novamente reverenciando aqueles tempos turbulentos e efervescentes pelos quais passaram nossos antepassados. As brigas lá no Rio Grande foram deflagradas pelos grandes fazendeiros, estancieiros, herdeiros de Sesmarias, ricos pecuaristas que não queriam pagar os abusivos impostos imperiais sobre o charque e o couro, seus principais produtos no mercado, transportados por mar e por terra pelo Corredor das Tropas que por aqui passava. Se lá na imensa planície gaúcha havia divisão ideológica entre Império ou República, aqui na Serra Catarinense não seria diferente. Aqui a maioria dos grandes fazendeiros da Coxilha Rica, gente que mandava politicamente e detinha o poder econômico não deu apoio.

A República e a bandeira farroupilha aqui só tremulou embalada pelo Minuano por alguns meses. Lages era uma importante fronteira a ser defendida. E foi. Até o dia do fracassado entrevero no Capão da Mortandade em Curitibanos diante das forças imperiais. Então tivemos que esperar até novembro de 1889 para ver novamente as cores de uma bandeira republicana e ver a derrocada do Império. Demorou não?
Que isso tem a ver com a Família Arruda? Tudo. Três pacíficos fazendeiros, que se presume fossem de ideais republicanos pela rebeldia nata que caracteriza as Famílias Arruda, Ribeiro e Camargo, moradores da Grande Porto Alegre daqueles tempos, mais precisamente de Triunfo e Caçapava do Sul, estavam no olho do furacão. Mesmo antes de deflagrada a Revolução já havia muita animosidade e desavenças entre republicanos e imperiais. Juntando as três famílias, pertences em geral e muitos animais seguiram no final de 1833 pelo Corredor das Tropas, tomando o rumo da Coxilha Rica. Uma troca da verdejante planície gaúcha por um planalto verdejante e igualmente belo em busca de paz e prosperidade. Bem ao contrário do que haveria de acontecer em breve, quando o Passo de Santa Vitória haveria de tornar-se o palco de uma das batalhas mais sangrentas da Revolução, com a vitória do Capitão Gavião e seus Lanceiros Negros.

Do lado catarinense, entre outros líderes revolucionários lageanos destacava-se o Tio Antônio de Anita Garibaldi, que teria influenciado a sobrinha adolescente nos ideais republicanos. Talvez, isso mesmo, talvez, aí resida o motivo de Anita se declarar lagunense ao se casar com Giuseppe no Uruguai: vergonha de ser lageana, pela falta de apoio ao Movimento pelo qual ela tanto lutou e não viu prosperar nestes verdes campos de Cima da Serra. Nossa República durou pouco, muito pouco e pouco se sabe sobre ela. Um quebra-cabeça que consome tempo de pesquisadores, historiadores e genealogistas atuais, que teimam em remontar fatos, e recontar acertos e desacertos daqueles tempos difíceis e cruéis.

Hoje é preferível ver ou pensar nossos ancestrais empunhando suas armas ao lado de Anita, mas a História pode não nos ser muito favorável. Não tem nenhum deles, fantasmagórico, que venha agora soprar a verdade dos fatos em nossos ouvidos, já que a História é cheia de versões e escrita a favor do lado mais forte. A Revolução Farroupilha foi uma briga de rico que ficou famosa por conta dos guerreiros esfarrapados, ou seja, dos pobres. Tanto faz República ou Monarquia. Sempre haverá reclamação por conta de altos impostos, a menina dos olhos de qualquer tipo de governo.

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Texto de JOSÉ CARLOS ARRUDA DE SOUSA

GERAÇÃO

brasao anita

1. Manoel Colasso. Ele cas. Ângela Maria. Também encontrado com a grafia Colaço da Veiga. Filhos:
2. i Bento Ribeiro da Silva.
ii Antonio Ribeiro da Silva. Alguns Genealogias aponta que ele seria tio e não irmão.

Segunda Geração

2. Bento Ribeiro da Silva, * S José dos Pinhais, PR. Ele cas. Maria Antônia de Jesus, 13-06-1815, em N Sra dos Prazeres, Lages, SC, * c1788, Laguna, SC, (filha de Salvador Antunes Paes e Quitéria Maria de Sousa). Ou nascido em Curitiba, PR; Tropeiro condutor de gado e lavrador. Tinha uma chácara denominada “Malafaca”, confrontando com o sítio de Úrsula Maria. Apelido Bentão. Depois de um tempo o casal transferiu residência para o Rincão dos Morrinhos, hoje situado no Município de Tubarão. Atualmente é o Bairro Anita Garibaldi onde foi erguido um monumento em sua homenagem. Em 1821, Tubarão era conhecida como Poço Grande como 5° Distrito de Laguna. Somente em 27-05-1870 é que se desmembrou de Laguna. Como desapareceram livros e até páginas do livro correspondente ao período provável de nascimento da filha Anita, muitas dúvidas pairaram sobre o local de nascimento dela. Era comum “o padre ir atrás dos fiéis e não o contrário”. Ou seja, um determinado livro de assentos de batismos e casamentos, por exemplo, poderia ser de Laguna, mas o local do evento ou cerimônia poderia ser em Imbituba ou Tubarão no local da residência da família. Pouquíssimos documentos encontrados para a construção do Memorial Açoriano confirmaram de que uma determinada família se deslocasse por quilômetros só para batizar um filho… Nos assentos de casamento era comum o Padre indicar a FREGUESIA DE ORIGEM DOS NOIVOS e não propriamente o local correto de nascimento de ambos. No casamento da filha Anita com Giuseppe Garibaldi, no Uruguai consta que ela era “de Laguna”. Ora, todas as localidades e quarteirões, distritos ou capelas da região eram subordinadas à Igreja de Laguna e todas elas eram denonimadas “freguesia de Laguna”. É certo isto por diversos documentos consultados como os próprios livros de batismos, casamentos e óbitos como os de crisma, rol de confessados e até mesmo das listas de proprietários. Teria casado novamente em Taquari, RS. Quando do casamento da filha Ana já era falecido. Também aqui existem vestígios de que muitos homens, da época, “fugiam” para outra região não mais voltando e eram considerados “falecidos”. Nesta obra existem vários exemplos. Alguns dados foram retirados do livro Aurorecer das Sesmarias Serranas (OLIVEIRA, 78). Se for correto, Anita Garibaldi é descendente de Tibiriçá. No Dicionário das Mulheres (SCHUMAHER, org., p. 77), consta como nascida em Lages, SC. Cinco filhos foram batizados em Laguna, dois em Lages e mais um dado como natural de Laguna. No livro de Anita, consta como sendo nascida na cidade de São Paulo. Um dos livros que tem fundamentação em pesquisa documental é “Anita Garibaldi, uma Heroína Brasileira” (MARKUN, Paulo. Editora Senac, São Paulo9, 1999). Também na obra “Memorial Açoriano” este autor existem mais detalhes. Filhos:
i Felicidade Ribeiro da Silva, * 04-07-1816, Laguna, SC, bat. 01-11-1816, Laguna, SC. Ela cas. Manoel Ribeiro de Almeida, 11-05-1831, em Laguna, SC, * Gravataí,RS, (filho de José de Oliveira de Aguiar e Francisca Antonia de Jesus). “Presença açoriana em Santo Antônio da Patrulha” (BARROSO, org., 1997, p. 211). Manoel: Ele pode ter nascido em Viamão. Depois de casados foram residir no Rio de Janeiro.
3. ii Manoela de Jesus * c1818.
4. iii Anita Garibaldi * 30-08-1821.
iv Manuel, * c1822, Lages, SC, bat. 07-12-1822, Lages, SC.
v Cecília, * c1824, Lages, SC, bat. 19-09-1824, Lages, SC. Ou Sissília.
5. vi Francisco Ribeiro da Silva.
vii Bernardina, * 10-10-1826, bat. 18-11-1826. O pesquisador Wolfgang Rau não aponta qual a cidade de nascimento e de batismo. Este autor não encontrou os livros correspondentes aquela época. Existem notícias que tais registros “desapareceram”. Outros boatos indicam que alguém “surrupiou” tais documentos e colecionadores inescrupulosos os retém em suas coleções particulares de forma criminal contra o Patrimônio Histórico e Cultural do País.
viii Antônia, * 13-06-1828, Laguna, SC, bat. 05-09-1828, Laguna, SC.
ix João, * 25-04-1831, Laguna, SC, bat. 08-05-1831, Laguna, SC.
x Salvador, * 26-03-1833, Laguna,SC, bat. 27-04-1833, Laguna, SC. É importante saber que o registro considera Laguna, mas pode ser Tubarão. Naquela época a Freguesia de Laguna abrangia o atual território de Tubarão, SC.

Terceira Geração

3. Manoela de Jesus, * c1818. Ela cas. Felisberto Caetano Fraga, 02-06-1838, em Tubarão, SC. Felisberto: encontrado também como Félix. Filhos:
i Manoel, * 21-04-1839, Tubarão, SC. Provavelmente faleceu jovem, já que tem irmão com o mesmo nome nascido em 1850.
ii Amâncio, * 06-09-1845, Tubarão, SC.
iii José, * c1849, Tubarão, SC, bat. 06-05-1849, Tubarão, SC.
iv Manoel, * c1850, Tubarão, SC, bat. 07-11-1850, Tubarão, SC.
v Maria, * c1853, Tubarão, SC, bat. 03-03-1853, Tubarão, SC.

4. Anita Garibaldi, * 30-08-1821, Laguna, SC. Ela cas. (1) Manoel Duarte de Aguiar, 30-08-1835, em S Antonio dos Anjos, Laguna, SC, * Desterro, Ilha de S Catarina, (filho de Francisco José Duarte e Joaquina Rosa de Jesus). Ela cas. (2) Giuseppe Maria Garibaldi, 26-03-1842, em Igreja S Bernardino, Montevidéo, * 04-07-1807, Nizza,Itália, hoje Nice, França, (filho de Gian Domenico Garibaldi e Rosa Raymond) d. 02-06-1882, Caprera, Itália. Anita died 04-08-1849, Fazenda Guiccioli, Mandriole,Itália. Ddescendente de Tibiriçá, pelo lado de João Ramalho e sua mulher Bartira; batizada com o nome de Anna Maria de Jesus Ribeiro; no primeiro casamento tinha penas 14 anos. Três anos depois rompeu o casamento. Quando casou com Garibaldi, já estava viúva (?); considerada a “heroína dos dois mundos” pela participação na Revolução Farroupilha e destacada atuação na Itália; nome de cidade em SC e nome de rua em Caxias do Sul; no livro Coxilha Rica, de Celso Ramos Filho (p. 344), teria nascido em 1820 na Fazenda Nossa Senhora do Socorro, em Lages; no trabalho inédito de Moacyr Domingues, intitulado “Famílias Lagunenses” (p. 14), consta a seguinte observação: ‘nossas pesquisas, infelizmente, não abrangeram o período de seu nascimento, nem o de seu casamento, de sorte que não pudemos comprovar a veracidade dessa informação, que colhemos na obra “Garibaldi e a Guerra dos Farrapos”, de Lindolfo Collor, da Editora Globo (p. 205/206). A ser verídica, estariam identificadas as raízes paulistas da famosa heroína’. Também na obra “O Continente das Lagens”, de Licurgo Costa, constam várias páginas apresentando uma fazenda próxima a Lages, SC, como o local de nascimento de Anita. A origem de Ana é discutida até hoje e existem várias lacunas, em termos documentais, que são citadas nesta obra. Quando do seu casamento no Uruguai com Giuseppe, constou como natural de Laguna no Brasil. Como dito anteriormente, se tratava da Freguesia e poderia, nesta hipótese, ser na vila ou mesmo no interior. Examinando outros batismos de pessoas comprovadamente nascidas em Tubarão, nos batismos não consta terem nascido em Tubarão e sim em Laguna… O que deixa perplexos quem analisa toda a documentação existente é de que numa Ação Judicial para provar que ela teria nascido em Laguna não foram ouvidos os Institutos Históricos do RS, SC e do Brasil, pelo menos para firmarem pareceres como sóe acontece em outros fatos importantes de nossa História pátria. A petição inicial, assinada pelo advogado Adílcio Cadorim (que, posteriomente, escreveu um livro sobre a vida de Anita Garibaldi) foi apoiada por diversas entidades… de Laguna o que poderá levar a uma interpretação de “favorecimento” sem que nenhuma outra entidade ou instituição de fora pudesse apoiar a iniciativa. Manoel: Sapateiro; tinha o dobro da idade de Anita; vide o livro “Garibaldi e a Guerra dos Farrapos”, de Lindolfo Collor, 2ª Edição, Editora Globo, Porto Alegre, RS (p. 205/206). Alistou-se no exército legalista imperial. Giuseppe: (vide livro da Anita, Markun, 34, descrição física; batizado como Joseph; inclusive no livro consta a história de Nice e a língua de então, o nizardo.Vide.Anulou o casamento com Francesca Armosino. Mas teve filhos com a governanta Francesca Armosino com a qual teve 3 filhos: Clelia, Rosa e Manlio; casaram-se oficialmente em 26-01-1880)
Filhos com Giuseppe Maria Garibaldi:
6. i Domingo Menotti * 16-09-1840.
ii Rosita Garibaldi, * 30-11-1843, Montevidéo, Uruguai, d. 23-12-1845, Montevidéo, Uruguai.
7. iii Teresita Garibaldi * 22-02-1845.
8. iv Ricciotti Garibaldi * 24-02-1847.

5. Francisco Ribeiro da Silva. Ele cas. Luiza Rosária. Os filhos deste casal foram arrolados pelo pesquisador Wolfgang Ludwig Rau, que não apontou se a data correspondia ao batismo ou ao nascimento. Os livros desta época não foram encontrados. Luiza: Este casamento consta em pesquisa de Wolfgang Ludwig Rau. Filhos:
i Maria, * 21-12-1839, Tubarão, SC.
ii Cândida, * 20-12-1841, Tubarão, SC.
iii Bernardina, * 04-04-1844, Tubarão, SC.
iv Francisca, * 07-02-1848, Tubarão, SC.
v Antônio, * 20-04-1849, Tubarão, SC.
vi Florinda, * 01-06-1852, Tubarão, SC.

Quarta Geração

6. Domingo Menotti, * 16-09-1840, Mostardas, RS, bat. 23-03-1843, Montevidéo, Uruguai. Ele cas. Itália Bidischini Dal’Oglio. Domingo died 22-08-1903, Aprilia, Itália. Tornou-se oficial do exército italiano tendo lutado ao lado do pai,casou e teve vários filhos que também foram militares, alguns chegaram ao posto de General (Cadorin, 182). Filhos:
i Anita Garibaldi, * 1875, d. 1961.
ii Rosita Garibaldi, * 1877, d. 1964.
iii Gemma Garibaldi, * 1878, d. 1951.
iv Giuseppina Garibaldi, * 1883, d. 1910.
v Giuseppe Garibaldi, * 1884, d. 1886.
vi Giusepe Garibaldi, * 1887, d. 1969.

7. Teresita Garibaldi, * 22-02-1845, Montevidéo,Uruguai, bat. 28-03-1847, Montevidéo, Uruguai. Ela cas. Stefano Canzio. Filhos:
i Bruno. Morto em ação nos Argonnes, durante a I Grande Guerra, 1914-1918.
ii Menotti, * c1841. Engenheiro-rural na Índia e China, onde morreu.
iii Pepino. Morreu em ação na França, durante a I Grande Guerra no posto de General Comandante da Legião Italiana na França.
iv Constant. Morto em ação na França, em 1915, durante a I Grande Guerra.
v Ricciotti, * c1880.
9. vi Sante * c1885.
vii Ezio, * c1885. General italiano. Faleceu em Roma.
viii Itália. Ou Anita. Escreveu o livro “Garibaldi na América”.
ix Rosa.
10. x Josephina Canzio.

8. Ricciotti Garibaldi, * 24-02-1847, Montevidéo,Uruguai. Ele cas. Lady Constance Hopcraft. Tornou-se oficial do exército italiano, chegando a lutar ao lado do pai no segundo período das guerras pela unificação italiana. Filhos:
i Josephina Garibaldi Ziluca. viveu nos Estados Unidos.
ii Ezio Garibaldi.
11. iii Sante Garibaldi.

Quinta Geração

9. Sante, * c1885. . Casado com uma francesa. Morreu no campo de Concentração de Dachau. Filhos:
i Anita. Filha adotiva.
ii Giuseppe.
iii Victória.

10. Josephina Canzio. Ela cas. Jospeph Henry Ziluca. Josephina died 19-07-1971, Greenwich, USA. Foi madrasta de Lucas Ziluca. Jospeph: Arquiteto iuguslavo. Filhos:
12. i Paul Garibaldi Ziluca.
13. ii Tony Garibaldi Ziluca.

11. Sante Garibaldi. Ele cas. Beatrice Borzatti. Filhos:
14. i Annita Garibaldi Jallet.

Sexta Geração

12. Paul Garibaldi Ziluca. Ele cas. Loise Loveday, 1928, em USA. Residentes nos Estados Unidos. Filhos:
i Loveday.
ii Joseph Henry.
iii Isabel.
iv Maxwell.

13. Tony Garibaldi Ziluca. Ele cas. Nancy. Nancy: Residiram nos Estados Unidos. Filhos:
i Francesca.
ii Alessanra.
iii Peter.
iv Antoinette.
v Gina.

14. Annita Garibaldi Jallet. Doutora em Direito pela Universidade de Bourbon, França. Filhos:
i Francesco.
ii Anna.
iii Clara.